Beisebol e Softbol no Brasil: Um Esporte para Todos, Não de Alguns
Beisebol e Softbol no Brasil: Um Esporte para Todos, Não de Alguns

Beisebol e Softbol no Brasil: Um Esporte para Todos, Não de Alguns

O Brasil é um país singular no mundo: forjado na diversidade, nas misturas étnicas, culturais e linguísticas de povos que aqui chegaram de todos os cantos do planeta. Italianos, africanos, japoneses, alemães, portugueses, árabes, judeus, espanhóis, latino-americanos… Todos, de alguma forma, deixaram suas marcas no nosso cotidiano, na nossa comida, na nossa música e, claro, no nosso jeito de praticar e amar o esporte.

Todavia, quando se trata do beisebol e do softbol, dois esportes de origem americana que chegaram ao Brasil principalmente pelas mãos dos imigrantes japoneses, a história foi escrita de forma diferente. Após a Segunda Guerra Mundial, por conta das restrições culturais impostas pelo governo brasileiro à comunidade japonesa, o beisebol tornou-se uma das únicas válvulas de escape social para os colonos. Através do esporte, preservaram valores, identidade e o sentimento de pertencimento. E, com justiça, cultivaram o beisebol como parte fundamental de sua cultura.

Porém, essa valorização interna acabou se transformando, com o passar das décadas, em um protecionismo cultural difícil de ser rompido. Os descendentes de japoneses criaram clubes, campeonatos e ligas entre si, o que gerou um cenário de isolamento esportivo — não declarado, mas sentido. Até recentemente, não era comum encontrar brasileiros “não-nipônicos” nos campeonatos oficiais, tampouco nas arquibancadas. O acesso era informalmente restrito, baseado mais em tradições veladas do que em qualquer regra escrita.

Mas o Brasil mudou. A sociedade se abriu, e com ela, muitos brasileiros descobriram o beisebol e o softbol como alternativas emocionantes e enriquecedoras ao monopólio do futebol. Clubes tradicionais começaram, aos poucos, a abrir espaço para quem vinha de fora da colônia. Venezuelanos, cubanos, colombianos, americanos nascidos aqui — e até descendentes de italianos como o autor do projeto “Taco não é Soft” — começaram a se interessar, se apaixonar e se dedicar. E com isso, perceberam algo incômodo: o acesso ainda é difícil, a inclusão ainda é tímida, e o espírito do esporte, que deveria unir, às vezes segrega.

É fundamental deixar claro: isso não é racismo, mas é segregação cultural disfarçada. É o desconforto de sentir que, para jogar, é preciso “ser transnipônico”, compartilhar hábitos e códigos que não fazem parte da vivência da maioria dos brasileiros. E isso não faz sentido, sobretudo num país onde a única coisa que todos nós temos em comum é justamente sermos diferentes uns dos outros.

O beisebol e o softbol não devem — e não podem — ser exclusividade de japoneses ou americanos no Brasil. Aqui, somos todos brasileiros. E como tal, temos o direito de transformar o esporte em algo nosso, com a cara do Brasil: vibrante, acolhedor, criativo, plural. Isso não significa apagar a história ou desrespeitar a cultura japonesa. Pelo contrário — significa honrar o legado nipônico ao ampliar o alcance do esporte e permitir que ele se enraíze de forma ainda mais profunda e duradoura em solo brasileiro.

A manutenção da cultura é um valor. Mas quando essa manutenção se fecha em si mesma e impede o crescimento, a inclusão e o diálogo intercultural, ela deixa de proteger tradições e passa a erguer barreiras. E o Brasil, como bem sabemos, é terra de pontes, não de muros.

Se queremos ver o beisebol e o softbol crescendo, ganhando espaço nas escolas, nos bairros, nas universidades e nos corações das famílias brasileiras, é preciso romper com o protecionismo e abraçar o pluralismo. Porque o esporte é, acima de tudo, uma linguagem universal — e no Brasil, essa linguagem fala com sotaque miscigenado.

O futuro do beisebol no Brasil será feito de japoneses, sim. Mas também de italianos, colombianos, cubanos, africanos, coreanos, árabes e, sobretudo, de brasileiros. Todos, juntos, jogando no mesmo campo.

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