Nos confins do mundo do beisebol e softbol no Brasil, há um “gaijin” que ousa desbravar esse terreno muitas vezes considerado exclusivo para colonos e descendentes. Por vezes mal entendido, algumas vezes rejeitado , mas com intenção pura e amor pelo Beisebol e Softbol, que tanto fez na educação dos seus filhos, ajuda quem não quer ser ajudado,faz o que acha certo e detesta ser confrontado por pessoas dominadoras e prepotentes. E escreve para o Taco não é Soft, com seu jeitinho Italo-Limeirense de ser.
Enquanto muitos se veem como proprietários culturais desses esportes americanos, trazidos para o Brasil em 1930 ( ou antes ) , outros seguem tentando apresentá-lo por inteiro ao até então “Pais do só futebol”.
Para ajudar com a árdua divulgação, entrevistamos na última Taça Brasil Little League Infantil, no CT Yakult o ex atleta da Seleção Brasileira Márcio “Shoyu” Toshio Nishijima , que tem se dedicado incansavelmente a ajudar na divulgação dessas modalidades no país e estava colhendo dados estatísticos dos atletas desta categoria de Base ao longo do evento..
Em uma entrevista franca e reveladora, Márcio aborda o protecionismo nipônico, a seriedade com que tratam o esporte e algumas dificuldades de integração na cultura brasileira. Ele relembra os tempos áureos do beisebol nos anos sessenta, através das histórias contadas por seus parentes sobre quando o esporte atraía tanto público quanto o futebol em São Paulo. Do orgulho que os times tinham ao vivo seguir chegar nos torneios Nacionais no Estádio Municipal Mie Nishi, que só era frequentado pelos melhores dos melhores times de Beisebol do Brasil.
Mas o que levou os brasileiros a deixarem de acompanhar o beisebol? Seria a dificuldade de serem aceitos em colônias ou clubes para treinar? Seria por ser um esporte ” de japonês ” aos olhos dos Italianos, espanhóis, alemães e árabes de São Paulo? Será por alguma falha de divulgação e marketing ? Ou por falta de dinheiro?
Márcio também destaca a mudança de cenário a partir dos anos noventa, com a abertura dos clubes japoneses no Brasil para a entrada de mais brasileiros. No entanto, ele reconhece as dificuldades da língua ( a maioria dos técnicos falava Japonês)e da integração cultural nesse processo. O Beisebol é uma grande família…literalmente. Todos que praticam se conhecem mesmo. No Brasil todo E como toda família, tem os desafetos, as barriguinhas, o ciúmes dos mais velhos… O respeito. E o Cunhado! Ahhh, o cunhado … Este tem histórias!!!
Hoje, Márcio observa com orgulho que o Brasil criou um estilo próprio de beisebol, uma mistura da profunda atenção e dedicação ao arremessador destacada pelos americanos, a extrema preocupação com tática e defesa japonesa, e a explosão de talento dos cubanos e venezuelanos.Estes últimos que estão chegando ao Brasil nestes últimos anos, devido ao empobrecimento do País. E os venezuelanos jogam beisebol desde crianças. É um esporte de massas lá na Venezuela e com certeza contribuirá muito para Evolução do Brasil neste esporte.
Como acadêmico da CBBS e veterano de vários campeonatos pelas seleções brasileiras de base, Márcio “Shoyu” está agora ajudando o comitê técnico da seleção brasileira infantil da CBBS, a convite do tecnico. Seu comprometimento e paixão por esses esportes são uma inspiração para todos que desejam ver o beisebol e o softbol crescerem no Brasil.
Entrevista com Márcio “Shoyu” Toshio Nishijima: Moldando Futuros no Beisebol Brasileiro
- O que você aprendeu com o Beisebol? R: Aprendi algo que vai além das técnicas do jogo. O beisebol me ensinou a ser gente, a ser cidadão. É uma verdadeira família, e meus melhores amigos são parte dessa grande família. Por onde passei, sempre fui reconhecido e acolhido, mesmo após parar de jogar para completar meus estudos na faculdade. Nunca me senti sozinho. Em qualquer cidade que ia, onde tinha beisebol , me sentia em casa.
- Como a disciplina do beisebol influenciou nos estudos? R: A disciplina que aprendi no beisebol foi fundamental para meus estudos. Mesmo durante a faculdade, sempre arrumava tempo para jogar com os amigos nos campeonatos universitários.
- Qual categoria do beisebol você mais se identifica? R: Sem dúvida, me identifico muito com a categoria Infantil. Apesar de não ter filhos, considero os 18 atletas da seleção como se fossem meus próprios filhos.
- Qual é, na sua opinião, o aspecto mais importante em um bom time de beisebol? R: Para mim, a velocidade é essencial. Por isso, sempre oriento os atletas a trabalharem muito a corrida. O tempo é crucial para chegar seguro nas bases, roubar uma base ou realizar uma jogada de dupla base.
- Quais medidas você toma para acompanhar o desempenho dos jogadores nos campeonatos nacionais? R: Acompanho de perto o desempenho dos jogadores de todos os times que disputam os campeonatos nacionais. Avalio a velocidade de arremesso, a velocidade e o tempo de corrida entre as bases, o tempo de corrida de um homerun, entre outros aspectos. Essas estatísticas são fundamentais para possíveis convocações.
- Mesmo não jogando mais pela seleção, por que você continua envolvido no beisebol? R: Por gratidão e amor ao esporte. Ajudar a moldar os novos atletas que estão chegando é uma forma de retribuir tudo o que o beisebol me proporcionou.
- um recado para os pais dos atletas passarem para seus filhos: R: Simplesmente para apoiarem o sonho das crianças. Não exigir demais pois o beisebol “aflora” com o tempo. Lembrar que as categorias de base são tocadas por crianças, não profissionais. E tentar pular etapas ou forçar e estressar as crianças física e psicologicamente só vão retardar o seu desenvolvimento. Deixe a emoção acontecer.
Assim como eu, muitos brasileiros podem contribuir para que o beisebol no Brasil se torne mais conhecido entre os próprios brasileiros. O importante é unir esforços e continuar fortalecendo esse esporte em nosso país.
Esta é apenas uma amostra do que está por vir. Fiquem atentos para mais entrevistas e histórias inspiradoras do mundo do beisebol e softbol aqui no blog “Taco não é Soft”. Faça a sua parte. Comente, compartilhe, apoie. Critique… Apenas não destrua o que o “Taco não é Soft” está tentando consrruir Se não gostar, apenas não leia.