FOMOS JOGAR SOFTBOL EM MONTEVIDÉU NO URUGUAI….  Em 1985 !!
FOMOS JOGAR SOFTBOL EM MONTEVIDÉU NO URUGUAI…. Em 1985 !!

FOMOS JOGAR SOFTBOL EM MONTEVIDÉU NO URUGUAI…. Em 1985 !!

O ano era 1985 e “el poderoso equipo de softbol de Coopercotia desde Brasil ” como eles diziam, havia sido convidada para participar de um torneio em Montevidéu.
Nós fomos de ônibus. Nos reunimos no Largo da Batata em Pinheiros e de lá foram dois dias trancados no ônibus com essa turma que aparece aí na foto, mais alguns pais acompanhantes.
Mal cruzamos a ponte do Rio Ribeira de Iguape em Registro, o ânimo dentro do ônibus começou a aumentar.
Eu era o técnico do time e por dentro eu pensava, quem me dera se essas meninas tivessem essa energia toda para jogar … não ia ter adversário para fazer frente ao nosso time.
Quando o ônibus chegou em Santa Catarina, eu já tinha aprendido umas quantas músicas que as meninas cantavam no transcurso, até refrões como o “tik-tik-joy tik-joy bo-bóf” passam na minha cabeça ainda hoje, e me faz lembrar da minha época de técnico de softbol do Coopercotia.


Dois dias dentro do ônibus é uma canseira, e claro, passamos pelo Estado do Rio Grande do Sul em silêncio pois a turma estava cansada, eu imagino, mas bastou cruzar a divisa do Uruguai, as pilhas foram ativadas e foram mais 4 horas de “tik-tik-joy tik-joy bo-bóf” até a chegada em Montevidéu.
Chegando o dia do torneio, fomos assistir o primeiro jogo para sentir o clima e ver como os outros times jogavam. A pitcher da equipe do Uruguai nos chamou a atenção pois ela arremessava no estilo FAST. Portadora de um bom controle e de uma bola rápida, ela dominou as rebatedoras adversárias.
O Coopercotia estava na outra chave, ou seja, nós iríamos enfrentar essa arremessadora se chegássemos à final.
O detalhe importante aqui é que no softbol do Brasil na época, não tinha nenhuma arremessadora sequer no estilo FAST-rápido com a rotação completa do braço na hora de arremessar. Todas eram SLOW, como era a nossa pitcher Marcia MIssaki (Marcia Ishie) que usava apenas o pêndulo no jogo do braço cujos arremessos eram caracterizados pela parábola que a bola fazia no trajeto da mão da pitcher até chegar no catcher. (A outra pitcher Esther Koshino não estava lá conosco e ela também era uma pitcher no estilo SLOW usando o “pêndulo” do braço para arremessar.) A primeira FAST pitcher no Brasil surgiu no ano seguinte, a Miti, a pitcher de Junqueirópolis que arremessava bolas rápidas mas o estilo dela era também com o uso do pêndulo do braço.
Seria esta portanto, a primeira vez que o nosso time iria enfrentar uma pitcher FAST no estilo que vemos hoje e a gente NUNCA havia sequer visto e muito menos treinado antes.
Quis o destino que o Coopercotia chegasse à final e lá estava a pitcher dificultando as coisas para as rebatedoras do nosso time.
O ajuste no “timing” era crucial e apanhamos nos innings iniciais do jogo, mas o jogo estava equilibrado, digna de uma final.


(Isso sem contar o cheiro do churrasco que invadia o campo durante o jogo, pois os anfitriões estavam preparando o assado para a festa do encerramento do torneio e claro, o vento sempre soprava em direção ao campo.)
No transcorrer do jogo, Sueli Takahashi (Sueli Yokoya), a irmã Sayuri Takahashi (Clery Sayuri Takahashi Shinkai), a Mary Endo, a Ely Yazaki (Ely Yazaki Szyrma), Nancy Abe e a irmã Lucy Abe e a irmã da Luzia, a Sueli Nakao (Keiko Nakao), todas foram ajustando o swing mas não conseguimos uma sequência de hits que nos permitisse colocar pontos para avançar no placar.
E chegamos ao último inning do jogo.
O Coopercotia perdendo por um ponto na segunda metade do último inning da final contra o time da casa, o Uruguai.
Pedi tempo para colocar uma “pinch-hitter” num momento derradeiro do jogo.
A Luzia Yuriko Nakao era uma das caçulas do time, reserva na posição de catcher.
Com os jogos bem disputados, a Marcia Minomo (Márcia Godoy) que era a catcher titular acabou jogando em todos os jogos.
Como técnico, eu tinha o desejo de colocar todas as jogadoras para jogar. Afinal tínhamos ido até o Uruguai.
Junto conosco vieram as jogadoras menores da categoria inferior e elas foram ao Uruguai para nos dar apoio, torcer e aprender (além de ser as mais animadas e as que mais cantavam dentro do ônibus).
A Luzia era a única jogadora na categoria que não havia entrado para jogar em nenhum jogo, e estávamos na final, no último inning.
Me chamou a atenção que ela ficou “rodando o bátta” durante todos os jogos do torneio e não foi diferente na final. E em todo o momento, lá estava ela chamando e incentivando as companheiras da equipe.
Pedi tempo, e lá estava a Luzia ainda rodando o batta atrás do bench.
Chamei a Luzia e ela veio com o taco na mão, colocando o capacete.
Pedi calma, relax, respirar e acreditar nela, e ela com um olhar compenetrado me disse … “eu vou bater um hitto,” e eu respondi, “é isso aí, confiança … vamos ganhar esse jogo.”
E lá foi a pequena Luzia para o batter box.
No primeiro arremesso, ela rodou o taco e não pegou nada…. completamente fora do tempo.
No nosso bench estavam todas de pé, gritando o nome dela, algumas já com as mãos em prece.
Um hit, empataria o jogo.
Mais um arremesso e foi ball. No arremesso seguinte ela tirou uma casquinha da bola.
DOIS Strikes, DOIS Outs, ÚLTIMO inning, dois corredores nas bases e o Uruguai com um ponto na frente no placar.
“Pega curto Luzia … olho na bola….” e veio o arremesso seguinte.


Foi quando ela rebateu “seco” rumo ao center field e estando dois outs, as duas corredoras rodaram as bases sem olhar para trás e marcaram pontos.
Fim de jogo e o Coopercotia campeão.
Nessa foto com o troféu, por alguma razão não está a Sandra Endo que estava lá conosco e era a “Netchan”= “a irmã mais velha” de todas do time, a ponte de conexão entre a gente-técnicos e as meninas.
Na viagem de volta, silêncio total dentro do ônibus. O pessoal só acordava nas paradas no posto e para comprar algo na lanchonete.
Quando mal percebemos, estávamos já chegando em Pinheiros, de volta ao Largo da Batata onde os pais nos esperavam. Não tinha as facilidades de agora na época e passamos um bom tempo conversando com os pais, contando o que tinha acontecido. Fotos daquela viagem, eu encontrei esta. Certamente devem ter outras perdidas em algum lugar.
Como técnico aprendi que devemos dar a oportunidade para todos e apostar nos jogadores, nas jogadoras.
Temos que saber mensurar e reconhecer o esforço da cada jogador(a) e proporcionar a cada um(a), uma experiência em campo, expor em situações de jogo que eles/elas levarão para o resto de suas vidas. Essas experiências são mais válidas que os títulos em si.
Talvez se a Luzia não tivesse batido, teríamos perdido o jogo, mas todos nós iriamos crescer, aprendendo com a experiência. E o mais importante, eu não iria me arrepender da decisão pois proporcionar essa experiência era importante.


Mas ela bateu um hit e decidiu o jogo, justo a caçula do time e enfrentando o “desconhecido”, uma FAST pitcher.
“Eu te disse que eu ia bater!!!” ela veio me dizer, com os olhos em lágrimas em meio à euforia de termos vencido o torneio e todas se abraçando ainda em campo.
E lá no fundo, eu também “rezava” para que isso acontecesse.
Que bom que aconteceu, e o softbol ganhou uma jogadora para sempre.
A Luzia nunca mais largou o softbol, e ela tem uma filha que joga também.
Acredito que aquele momento marcou a carreira dela, e fico contente em dizer que presenciei outros momentos também e que marcaram a mim também como técnico e como pessoa.
Aos técnicos, principalmente dos pequenos, que possamos proporcionar a experiência para o maior número de jogadores(as). Proporcionar a experiência em primeiro lugar e a vitória certamente virá no seu devido tempo.
Que honra a minha, que privilégio foi, ter tido a oportunidade de ser o técnico daquele time.
Que todos estejam bem e com saúde.
Se cuidem todos e “tik-tik-joy tik-joy bo-bóf” para todos Vocês também 😄😄😄
Edson A. Kodama, de Nova Iorque.

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